👉 Gabriela Arieira
Design Manager, Nubank
Nesta edição da PackLead, temos o prazer de receber Gabriela Arieira, Design Manager no Nubank, onde atua há quase quatro anos, atualmente na área de Empréstimos. Com mais de uma década de experiência em design, pesquisa e estratégia digital, sua trajetória inclui passagens pela CI&T, como Digital Strategist, e pela Fjord, onde atuou como UX Researcher.
Formada em Publicidade e Propaganda pela PUC-SP, Gabriela sempre esteve interessada nos aspectos sociais e psicológicos do comportamento humano. Esse interesse a levou a se especializar em Sociopsicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, além de aprofundar seus estudos em Psicanálise, campo que considera ter muitas interseções com o design.
Com uma carreira marcada pela intersecção entre design, pesquisa, negócios e comportamento humano, Arieira acredita que o design tem o poder de transformar a forma como nos relacionamos com nós mesmos, com outras pessoas e com o ambiente ao nosso redor. Nesta conversa, exploramos sua jornada, suas experiências e como sua visão multidisciplinar influencia seu trabalho no Nubank.
Tá demais, vem ver!
🎙️ Como foi o processo de decidir entre uma carreira técnica e uma carreira de gestão de pessoas?
Eu comecei dando mentoria para algumas pessoas que trabalhavam comigo enquanto ainda era IC (individual contributor) e me sentia bem podendo ajudar a dar direção na carreira e no dia a dia delas. Mas, como mentora, eu podia direcionar e aconselhar, mas não me cabia avaliar o trabalho delas (pelo menos não formalmente), fazer acompanhamento de progressão de carreira, garantir que as pessoas estariam em times e projetos que alavancassem o que cada uma tem de melhor, etc. Isso me fez refletir bastante sobre a minha própria trajetória, sobre as pessoas que me lideraram, o que eu fui aprendendo através delas e o que eu aprendi por conta própria. Uma das principais é que apenas fazer um bom trabalho não é garantia de impacto, muito menos de reconhecimento (seja ele financeiro, um novo cargo, etc).
Aprender a jogar o jogo, advogar por si mesmo, ser intencional onde colocar seu tempo e esforço, influenciar e negociar são coisas que eu mesma não tive muito suporte ao longo da minha carreira. Poder passar esse conhecimento adiante e poder ter um impacto positivo na vida e na carreira das pessoas foi algo que eu descobri ser muito importante pra mim. Ao longo dos últimos anos, li estudos que mostram que a pessoa que é sua líder tem um impacto gigantesco na sua vida, podendo ser igual ou até maior quanto um/a psicólogo/a.
Claro que outras coisas influenciam muito - salário, cultura, divisão de trabalho entre vida pessoal e profissional, composição de time, atribuições, etc - mas, na minha visão, a base pra isso tudo é a pessoa que te lidera. E, voltando pro começo, quando percebi que podia ter um impacto positivo na vida e na carreira das pessoas que estava dando mentoria e nos meus pares, durante as conversas de dia a dia, me trazia tanta realização - até mais do que o impacto que eu tinha como IC, eu tive certeza que era o que eu queria fazer.
🎙️ Você se lembra quais preocupações você tinha no início desse novo papel?
A primeira preocupação - e principal - era não conseguir ter impacto de fato. Eu tive muitos/as líderes ao longo de quase 15 anos de carreira, alguns (poucos) foram fantásticos, alguns (tantos) foram ruins e outros não me agregaram. Óbvio que em um mundo ideal, todos teríamos líderes excelentes, mas ainda podemos aprender pela dor de termos pessoas ruins e/ou mal preparadas lidando conosco. Eu aprendi demais o que eu queria ser e o que queria fazer pelo anti-exemplo de quem passou pela minha vida e das pessoas ao meu redor. Mas, sinceramente, eu acho a última categoria - de quem não me agregou - a pior de todas e essa era a minha maior preocupação. Ser neutra, nesse sentido, não só não ensina como atrapalha o time.
Não adianta ser uma boa pessoa com boas intenções se profissionalmente sua existência e presença não acrescentam em nada. Uma coisa que eu ouvi e li muito pouco foi sobre como a mudança do papel de IC (individual contributor) pra gestora pode ser sofrida. Sair da linha de frente, do papel diretamente resolutivo e ficar por trás dos bastidores, trabalhar mais influência e negociação para com outras pessoas. Essa transição também foi difícil e muitas vezes não existe uma cartilha a ser seguida, ainda mais quando você é promovida pra se tornar gestora no lugar que você já trabalha.
Outra preocupação grande que eu tinha é a de sair de um papel mais específico em que eu era UX Researcher pra um mais abrangente como Design Manager. Além de aprender as habilidades de gestão e liderança, você também precisa gastar um tempo pra aperfeiçoar seu nível de conhecimento nas outras disciplinas como Product e Content Design. Então, do momento em que iniciei nesse papel, ainda que já tivesse sido gestora em outros lugares, me vi numa corrida contra o relógio de mudança de foco e aprendizado em que saí de uma esfera de aperfeiçoar minhas habilidades técnicas em pesquisa, usuário e produto pra abranger Content Strategy, User Interface, Hierarquia, Design Strategy, etc.
Então, na minha experiência, eu sempre quis entregar o máximo de impacto e valor pro meu time no menor tempo possível e isso causa a nada gostosa “dor de crescimento”.
🎙️ Qual foi o conselho mais impactante que você recebeu até agora como gestora e como isso influenciou sua carreira?
O maior responsável pela sua carreira é você mesmo. Isso se aplica inclusive para mim, tanto como liderada quanto como líder. Eu costumava achar que era responsabilidade da pessoa que me liderava me mostrar as opções que eu tinha, qual delas combinava mais comigo ou me dariam mais oportunidades, me promover, me dar um aumento de salário e me desenvolver. Mas a verdade é que cada pessoa deve ter clareza de pra onde quer ir, o que gostaria de desenvolver, se automotivar em tempos de frustração, se puxar de volta quando as coisas ficam difíceis. O papel de gestão é outra coisa. Uma vez que está claro pra onde a pessoa quer ir e o que ela quer desenvolver, é sim papel de quem te lidera apresentar qual é o caminho e as regras, e te ajudar a identificar o que falta e como se desenvolver até lá.
🎙️ Como você descreveria seu estilo de liderança atualmente e o que o levou a desenvolvê-lo dessa forma?
Acredito que meu estilo de liderança é o situacional. Pra mim, até então, esse é o que melhor funciona tanto no meu estilo de liderança quanto na pessoa que me lidera. Eu considero a possibilidade de adaptação da gestão e do liderado de acordo com a função, nível de desafio e habilidades existentes um dos fatores mais cruciais pra que um time e uma iniciativa tenham sucesso. Colocar a pessoa certa no desafio certo só funciona se você também entende qual nível adequado de suporte e autonomia elas vão requerer. E é preciso estar atenta, porque cada situação e cada pessoa vão exigir revisões do quanto de suporte versus autonomia elas vão precisar. Gosto desse estilo porque ele dá respostas bem claras do nível de maturidade percebida que cada pessoa tem e isso pode (e deve) inclusive ser discutido nos papos entre gestor e liderado.
🎙️ Qual a principal característica do seu time? Isto é, aquela característica que todo mundo que trabalha com você acaba desenvolvendo.
Confiança, com certeza. Essa é a base de qualquer relacionamento e não tem porque no ambiente profissional ser diferente. Tento demonstrar da melhor forma que eu consigo que me importo e que tudo que vai partir do meu lado será com a melhor das intenções. Claro que não posso controlar que isso sempre será visto de forma positiva e acredito que o que ajuda nisso é construir uma relação e pra isso acontecer, a gente precisa se permitir ser vulnerável: admitir que não sabe, mas que pode aprender, pedir ajuda, abrir as inseguranças. Se esforçar em acolher a vulnerabilidade do outro também. Eu acredito que o impacto na saúde mental de quem nos lidera é igual ou maior do que de psicólogos porque precisa existir esse espaço de se abrir também. Um time que em que se confiam uns nos outros, sabe pedir ajuda quando precisa e ensinar quando sabe, é um time forte.
🎙️ Para você, quais são os atributos-chave de um líder eficaz? Pode compartilhar sobre alguém que o inspire e explicar por quê?
Continuar crescendo: Saber onde nós mesmos, enquanto líderes, precisamos nos desenvolver e crescer. Obviamente que o sucesso do time reflete no nosso também, mas não pode se limitar só nessa esfera. Influenciar cada pessoa do nosso time a crescer profissionalmente não deve ser mais ou menos importante do que crescer nós mesmos.
Ouvir: Saber ouvir é diferente de esperar sua vez pra falar. O que no fundo estamos todos buscando é ser ouvido pra ser entendido. E, pra criar confiança, todos nós precisamos nos sentir vistos e ouvidos.
Dar feedback: Isso envolve também não fugir de conversas difíceis, ser clara nas expectativas e no que está e não está funcionando. Não florear as coisas, saber ser direta sem ter medo de machucar os sentimentos dos outros, confiar que faz parte do processo de amadurecimento nosso e de quem trabalha no nosso time lidar com notícias difíceis.
📦 Se você pudesse dar um conselho final para quem deseja liderar equipes no futuro, qual seria?
Tenho alguns conselhos e algumas perguntas: Gaste tempo tentando entender as suas motivações e em que você é bom, no que você pode contribuir no desenvolvimento dos outros e no quão à vontade você se sente em dar feedbacks e notícias negativas, ter conversas difíceis e ver outras pessoas atingirem sucesso com você no backstage. Como seu ego lida com todas essas situações? Como você se sente com, ao invés de sempre dar as respostas de maneira direta, aperfeiçoar sua capacidade de fazer perguntas e influenciar pra que as pessoas também consigam chegar em suas conclusões?
Nem todo mundo tem ou desenvolve o perfil para ser líder e não deveríamos ser obrigados a seguir para essa trilha de carreira para crescermos profissionalmente. Mas, no caso em que você não tenha opção a não ser virar líder (ao invés de continuar como Individual Contributor), entenda quais pontos fortes você possui pra que isso seja útil no desenvolvimento das outras pessoas, tal qual na qualidade do resultado final, da entrega. De qualquer forma, você não precisa ter as habilidades técnicas mais altas e refinadas pra poder liderar um time.
Minha carreira mesmo nunca foi completamente linear e hoje eu vejo que todas as minhas experiências direta ou indiretamente ligadas ao Design me ajudaram a construir a bagagem que tenho hoje e, inclusive, fez eu desenvolver também meu estilo de liderança.
📦 Alguma dica de conteúdo para quem quer se aprofundar em liderança? Artigos, livros, vídeos ou podcasts que você acha que vale muito a pena.
Inteligência Emocional, por Daniel Goleman
Radical Candor, por Kim Scott
Flow: A psicologia do alto desempenho e da felicidade, por Mihaly Csikszentmihalyi
Nice Girls Don't Get the Corner Office: Unconscious Mistakes Women Make That Sabotage Their Careers, por Lois P. Frankel PhD
Surrounded by Idiots: The Four Types of Human Behavior and How to Effectively Communicate with Each in Business (and in Life), por Thomas Erikson
Feminist Fight Club, por Jessica Bennett
Descubra seus pontos fortes, por Marcus Buckingham
Encontre Gabriela Arieira no LinkedIn.
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Obrigada por acompanhar essa entrevista.
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